segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Life seems unreal, can we go back to your place?

Ela olhou para ele, e, pela primeira vez, o viu. O viu por inteiro. Antes daquele momento, a face gélida que havia naquele homem ficara completamente intacta no fundo do vidro, como que decantado pelos olhos apaixonados. Seu maior temor acerca das pessoas com quem se envolvia, quaisquer tipos de relacionamento que fosse, era o de ser menos necessária do que necessitada. O simples pairar desta idéia sempre lhe causava calafrios, e era preciso que ela se utilizasse de uma espécie de cilício imaginário para fazê-lo parar. Agora este terrível receio se tornara, de fato, realidade. Não duvidava por um segundo, todavia, dos sentimentos do amado. Conseguia perceber o seu amor através dos mínimos gestos - a maneira com que ele a abraçara por trás enquanto a ajudava a lavar a louça, o sorriso sincero que abria após uma das graças singulares dela, as implicâncias seguidas de um beijo apertado contra a bochecha. Então por que sofria tanto? Talvez pelo medo de o que sentia ser maior do que ele pudesse retribuir; de que sua maneira de amar o pudesse atrapalhar, ou pior, sufocá-lo; de que, um dia, seu objeto de afeição se cansasse de lidar com uma alma tão sentimentalmente complexa. Estava na sua essência, não podia evitar. Uma menina tão sensível como aquela costuma ter suas emoções multiplicadas em todos os níveis e seções: paixão, entusiasmo, saudade, remorso, vigor, frustração, vergonha, prazer, alegria, tristeza. Por conseguinte, o medo, grande inimigo dos corações inseguros, é transformado em pavor. Todas as suposições à parte, o que realmente se passava na cabeça de Sofia era a amarga sensação de que aquilo não duraria para sempre.

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