domingo, 15 de novembro de 2009

Aconteceu em Woodstock

Woodstock '69.



Saudades de uma época que não se viveu: é possível?

Possível é idealizar uma década, um momento em uma imagem límpida de perfeição, de equilíbrio, e desejar vivê-la. É isso que sinto ao ler e assistir às mídias dos anos 60 fora do Brasil.
Sorte é ter realmente compartilhado com outros aquela ideologia de liberdade, além da teoria, em qualquer época (mas suponho que, naquela, mais pessoas o fizeram).

Expressar a sua essência humana tão livremente, unido a uma multidão pelos ideais e pelo rock...

Viver com somente o necessário no quesito material, dormir aonde der, cozinhar para todo mundo, cada um faz a sua parte...

E hoje?

Hoje a comunidade é diferente. Mesmo aqueles que tentam reviver a época que nunca viveram, questionando a sociedade áspera e sutilmente megacompetitiva moderna, se deixam levar pela onda de crânios ocos isolados, sem esqueleto ou neurônios espelho.

É raro se sentir unido hoje em dia. Unido de verdade, como quando você é a outra e a outra é você. Há um jogo de retalhamentos de corações, porém nenhuma forma uma interceção - quando forma, ergue-se também uma parede para demarcar o território. Cada um, ao longo da vida, deixa um pedaço de si no outro... mas por que isso é arruinado com a posse?

O amor pode ser expressado de diversas maneiras, e uma das mais naturais é pelo corpo. Tocar-se é exprimir carinho que surgiu naquele momento; não importa o sexo, idade, aparência, visão política, etc... Tudo é cheio de amor. Por que não sentir isso a cada entrada no mundo de outro alguém querido?

Digo porque: Sartre estava certo. A sociedade é a prisão do homem, e o homem não vive fora de sociedade. O paradoxo primordial da existência humana. O homem faz regras dentro da sua própria liberdade, pois há a liberdade do outro próximo a ele. As regras podem ser traçadas visando um bem comum a todos ou ao bem de um determinado grupo de pessoas. A única forma de conviver com o paradoxo é com a cooperação. Com o jogo de dar e receber, todos saem beneficiados, mesmo que agora você necessite reduzir sua liberdade pessoal para aumentar a do outro - em outros momentos, a situação se inverterá.

Por que somos incapazes de viver em cooperação? Segundo Thorstein Veblen, por causa do nosso estilo de vida predatório, que desperta um sentimento de competição entre nós que nos consome por inteiro. Mas, para ele, as culturas que não passaram pela Revolução Neolítica ainda estão em um estágio de comunidade fraterna, sem a noção de um membro contra o outro, ou que um se sobrepõe a outro em qualquer modalidade. Ou seja, talvez, um dia, em um período muito muito curto da história, já tivemos este pensamento que soluciona o paradoxo da vida humana.

A partir da adoção da vida predatória, passamos a desenvolver, segundo Konrad Lorenz, 3 princípios animais:

1) Princípio da liderança - que se dá pela força (líder = mais forte); se impõe pela violência.

2) Princípio da territorialidade - proteção e demarcação do território da comunidade; e território pessoal dentro do grupo (hierarquia demarca linhas invisíveis).

3) Princípio da exclusividade de tipo - quando nasce um indivíduo fenotipicamente diferente do resto do grupo, a tendência é a exclusão ou eliminação do mesmo (neofobia).

A diferença marcante, que faz o ser humano ter um pingo de esperança para atingirmos o "retrocesso" do pensamento cooperativo, é que nós temos a capacidade de processar raciocínios, e enxergar todas estas condições - e, portanto, controlá-las para um bem comum.

Isso somente acontecerá (se não fizermos pressão) no dia em que estaremos próximos do fim do mundo ou de alguma situação tão drástica assim, como a mudança climática global: quando a sobrevivência se sobrepôr à ganância e ao individualismo pelo qual o ocidente tanto preza.

Deveríamos utilizar este "novo" caráter competitivo do homem para alcalçar esta meta mundial de paz: coloquemos em jogo o Woodstock.

Quem reunir o maior número de pessoas pela paz vence;

Quem trouxer mais felicidade para o maior número de pessoas vence mais ainda;

Quem divulgar mais amplamente essa felicidade para o mundo, e mostrar o quão melhor somos vivendo desta maneira, vence o melhor prêmio de todos: a paz.

Ao infinito, e além!

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