os teus passos
vibram em mim feito corda de harpa
e
quando dança suas pequenas danças, rodopios do ir e vir,
para um
lado ou outro, pegar e soltar em mudra
nesse
jeitinho devagar ritmado e doce, feito flauta doce
te
fazes krishna, transmodando o divino em som
o infinito
em música: arte da musa
como Ele,
fecha os olhos, e seus pés são vassalos do devir
o
rosto sereno, no êxtase cândido, de quem vê o tudo nas coisas pequenas
semeando
primaveras amenas
circunda,
circula graça em sachês
pingando
vida pelos cantos,
e por
esses cantos canta muda
me vê e sorri, esmeralda mulher de atenas
e vem até mim de girassol
caracol nos cachos
enterrar
as maçãs do rosto nesses cachos é afundar num travesseiro de flores
é
espreguiçar-se num campo florido de verão
cheio de cores e amores,
ondulado
prado de dente-de-leão
jardins
de luxemburgo em matas virgens da costa verde.
a água vem e fica na espera
a espuma
beija e banha o verbete: reverbera
feito confete
em carnaval, manifesto em massa
e aí você
me abraça –
– ,
quando vê,
já passou
já se
despediu e me amassou
pouco a
pouco, conheço-te mais e mais
nesse
instante, nessa fresta cega corpo a corpo
lendo o
braile dos teus sulcos
novas
arestas a cada vez
tua
maciez me toma, me enrola
e naqueles
dois segundos antes de desenrolar
enquanto
suas ondas dos cabelos batem nessa pele
o tempo
pára no prisma, pasmo
perde a
pressa: tropeça
cai de
cara num mar de tulipas
encontro
meu centro e bóio
me apóio
e concentro no contorno aquoso
na
carícia da pétala e o orvalho gostoso
paz
inabalável se faz: cheia, a maré mansa
parece
que nunca mais se vai.
quando recua
(quando você já não alcança)
é como se
lá estivesse permanecido
em casulo
para o próximo instante congelado
e o que
vem entre é só passageiro... envaidecido
minha
alma somente ali é mais
nas
profundezas das tulipas, secreto silêncio
eternidade
na impermanência.
