quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

cobertorzinho

feito cobertor transicional jazo no fundo do armário
nadando congelada pelas trevas do esquecimento,
à mercê de qualquer tenro desejo de acolhimento
que o faça abrir as portas
e iluminar meu rosto
com ternura tal que diga:
ah, cobertorzinho
como pude passar tantos milênios sem abraçá-lo?
e assim meu tecido tremerá de sorrisos
na esperança de que seja uma vez por todas útil
de que meu carinho seja necessário e almejado,
assim como a uma criança e para sempre será.

mas meu dono já cresceu
meu trabalho se deu por finito.
e após alguns minutos de aconchego ele se realiza
ao sentir minha textura e meu aroma, em um momento de fraqueza
a partir dos quais recobre as energias
para mais alguns anos de potência.
assim, o cobertor recebe um último abraço
antes de ser devolvido àquele coração de traças
que o devorará, vivo, pouco a pouco
sem que aquele o perceba
pois sua vida segue, e a do cobertor, extingue.

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