sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

mágoas gosmentas

página em branco
me atormenta e me sacode
a fim de soltar a costura entre o palmo e a boca.
ah, o terror de que esses laços se desfaçam!
que a cachoeira de cola polar se deslanche
num avalanche de cutucadas e puxões.

ai de mim,
criatura esponjosa
pegajosa
repulsiva aos olhos instigantes
cujos braços esticados a ninguém apetece
como imerso em bolha verde
achatando castelos de areia ao atravessar
andando em direção ao amor
coberto por gosma mal cheirosa.

nem um abraço, nem um beijo
o monstro tem chance de ganhar.
corcunda de angústia, umidecem os olhos tristonhos
águas das mágoas dissolvem a costura
e os braços carentes são enrolados em torno de si.
o verde líquido então jorra mais e mais,
grudando pelas pernas
e pelo tronco
pescoço
até que enfim o monstro é encurralado
e afogado por sua própria carência,
em sua bolha
em sua solidão.

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