sábado, 20 de abril de 2013

Alívio silencioso da luz discreta

Os objetos do meu quarto ganham mais vida com luz de abajur. A lâmpada fluorescente no centro do teto, que tudo reluz, queima sua sensibilidade e eles se recusam a mostrar sua esfera animada. Na discreta alegria do pequeno holofote, que aquece e conforta como vela, o constrangimento se esvanece e podem dar as caras quase que desapercebidos. Os livros agora têm algo a dizer; intimidados por euforismos elétricos de nada mais poderiam servir para além de retratos demonstrativos, uma certidão de inteligência, de que pelamordedeus-eu-tenho-opinião-própria. No fundo, a cegueira que a abruta fluorecência faz sentir é o mesmo cansaço dos olhos que incessantemente buscam outros olhares, imagens para averiguar a sua própria, já tecida na retina - mas e você, o que acha? Melhor que ela? E esse decote, ele vai curtir? E essa minissaia? Meu cabelo? O bronze? Vai? Não vai? Hã??
Queimou tudo.
Tudo ficou branco, sem contornos, formas, contrastes ou sentido. É a invasão elétrica desses fogos artifícios nervosos. A voltagem transbordou e não existe mais eu ali.

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