segunda-feira, 30 de novembro de 2009
A doença do se entregar
ano após ano,
continuo persistindo no se entregar.
Repudiei os medicamentos
não apliquei vacinas
até recuso o soro remediador.
E por quê?
Talvez eu goste da dor,
do gelado atravessando o calor
talvez eu esteja sempre a me martelar
e o procuro; me jogando aos seus pés
de novo e de novo
até você me golpear como eu gosto.
Para alguns,
é trocar ar quente pela brisa fria
conforto por mudança
centelhas por árvores.
Quanto a mim,
nunca estive mais em casa
do que no abraço daquele que me rejeita.
sexta-feira, 27 de novembro de 2009
Do que vai, o que fica.
Essa imagem do sentimento permanescerá encrostada em minha alma; escondida em seu quarto especial dentro de mim.
Feliz é a inocente vestal.
Brilho eterno de uma mente...
quinta-feira, 26 de novembro de 2009
Não dorme ninguém. As criaturas da lua cheiram e rondam as choupanas.
Virão iguanas vivas morder os homens que não sonham
e o que foge com o coração partido encontrará pelas esquinas
o incrível crocodilo imóvel sob o froixo protestos dos astros. (...)
A vida não é sonho. Alerta! Alerta! Alerta!
(LORCA, Frederico García. "Cidade sem sono")
quarta-feira, 25 de novembro de 2009
Fecho os Olhos
Fecho os olhos para a política quando me desaponto.
Fecho os olhos para o futuro quando me amedronto.
Fecho os olhos para as conseqüências quando me acelero.
Fecho os olhos para o caos quando me reinvento.
Fecho os olhos para os outros quando me transpasso.
Fecho os olhos para a crítica quando me sensibilizo.
Fecho os olhos para a sensibilidade quando me critico.
Fecho os olhos para a vida quando me castigo.
Fecho os olhos para o castigo quando me vitalizo.
Fecho os olhos para o amor quando me engano.
Fecho. Olho. Fecho.
(Shirin Neshat - The Stripped)terça-feira, 24 de novembro de 2009
Transição selvageria pacífica / barbárie predatória
Teoria da Classe Ociosa
Cap. I
As classes altas ocupam as funções meramente honoríficas da sociedade. Elas se excluem terminantemente de funções industriais, pois estas estão reservadas às classes inferiores, as quais, inicialmente, se incluíam escravos e mulheres. Essas ocupações da classe ociosa se subdividem em governamentais, guerreiras, religiosas e esportivas, qualquer atividade a mais iria contra o bom senso ou os costumes da comunidade.
As funções da classe mais baixa podem apresentar uma hierarquia à medida que a ocupação remeta mais ou menos diretamente às funções da classe ociosa, como a fabricação e cuidado de armas e objetos sagrados.
Os diferentes níveis hierárquicos da divisão do trabalho dizem respeito às fazes econômicas em que uma sociedade se encontra. À medida que as diferenciações são concretizadas e o trabalho se especializa, a linha entre funções industriais e não-industriais se define mais acentuadamente.
Em uma cultura mais “avançada” nesse quesito, apresenta-se também um caráter de competição e de inferioridade entre os sexos: o homem geralmente é dispensado das tarefas industriais, por participar mais ativamente de atividades como a guerra, que exige força e disposição à agressão – seu esforço não se equiparia ao trabalho rotineiro e não-digno feminino. As funções dignas são as não-servis, não-cotidianas.
Em culturas mais “primitivas”, pode-se observar uma diminuição ou mesmo ausência de hierarquias no grupo. A eficiência de um membro se dá pelo trabalho mais útil à comunidade, e a emulação é no serviço industrial. Seu sistema econômico não apresenta a propriedade individual como traço dominante. Muitas vezes isto é resultado de um retrocesso de um estágio mais avançado. Essa postura mais pacífica, todavia, torna a comunidade mais propensa a ataques agressivos.
Nesta transição da selvageria (“primitiva”) para a barbárie (“avançada”) deu-se início a instituição da classe ociosa. O que concretizou isto foi a adoção do modo de vida predatório – pois a força e o troféu (presa) passam a ser elemento de proeza – e a subsistência de modo a uma parte do grupo não precisar realizar grande esforço.
Vale ressaltar que o fundamento da discriminação se modifica de acordo com o interesse. Nos estágios primários o interesse era coletivo e, portanto, a proeza individual se concentrava nas tarefas cotidianas, para a sobrevivência da comunidade. Muda o fim e, com ele, o ponto de vista dominante, quando a cultura evolui. O senso comum gradualmente incorpora novos padrões com o tempo e deteriora antigos aos poucos.
Hoje (época do livro), para o senso comum, o esforço é industrial quando seu fim último é a utilização de objetos não-humanos, por meio da exploração do meio não-humano. É o conceito de domínio industrial sobre a natureza, que limita o homem da criação bruta. Outrora a relação de conflito se dava pelo homem e seu alimento, e, nos tempos modernos, por o que é animado e o que é inerte.
Tudo que é ativo e animado, na mentalidade bárbara, se equipara ao humano, com o qual ele lida de forma e de eficiência diferentes do que com o que é inerte: tais fenômenos defrontados, quando bem-sucedidos, são encarados como atividade digna e acima do comum.
Desse modo, o bárbaro se divide em classe da proeza – utilidades para seus próprios fins de energia – e classe da indústria – criação a partir da matéria bruta que lhe é dada e, portanto, menos digna. Essa distinção é reforçada principalmente quando se entra em contato com outros grupos.
Este habitat bárbaro, concentrado na força (caça a grandes animais, etc.), exige um maior contato com as virtudes masculinas, e desse modo se enraíza um processo cumulativo de adaptação seletiva: a função da mulher passa a ser “moldar” a matéria, na qual não há afirmação da força de forma vil, e a do homem, massacrar os concorrentes refratários, o que cabe à sua violência, sua natureza de agente. Daí se reforça o conceito de valia e honra.
Esta essência agente tem por objetivo um fim último, impessoal, que busca através de uma ação eficaz e com o menos esforço fútil ou desperdício. Isto pode ser denominado de “instinto de artesanato”. Entretanto, quando se insere no contexto uma comparação entre indivíduos, o resultado sempre será de luta, de demonstração competitiva de força. Este estímulo à emulação da sociedade predatória faz com que o fim último seja desviado para o sucesso por si próprio, e quem o obtém é prestigiado. Da mesma forma, quem não o obtém e se reduz ao trabalho industrial adquire caráter negativo. O trabalho prestado a outro implica na obtenção de bens que não se é dono, que não se “mereceu”.
A competição é a forma mais aceita de auto-afirmação pelo grupo, e a vitória – o ato honorífico reconhecido – se prova pela posse de troféus. Estes podem ser artigos prestigiosos, de maior custo. Logo, a sociedade atinge um estágio no qual a guerra não só é aceita, mas característica. A luta é inerente à história social humana, já que mesmo nas culturas mais “primitivas” e pacíficas havia uma competição entre sexos, mas é questionável o hábito de julgar os fatos sob o padrão da luta.
A diferença espiritual na transição entre a fase pacífica e a predatória coincidiu com o desenvolvimento industrial para além da subsistência, principalmente no uso de instrumentos. Nisso, havia agora uma margem pela qual se podia lutar. Daí desenvolve-se uma série de facilitações para a implantação do hábito predatório, como regras e normas que favorecem este modo.
segunda-feira, 23 de novembro de 2009
Emulação Pecuniária
Teoria da Classe Ociosa
Cap. II
Anteriormente à vida predatória, a proeza de um homem era tida como do grupo, e ele era apenas guardião da honra coletiva.
Quando a noção de propriedade em si, especialmente a individual – e a idéia do direito a tal –, surge no pensamento social humano, a classe ociosa se desenvolve paralelamente.
Esta divisão se deu, inicialmente, pela divisão do trabalho por sexos; a propriedade, por sua vez, se expressou de forma clara através da posse da mulher pelo homem. Esta posse foi associada a um troféu pela tomada violenta da mulher do inimigo – “casamento-propriedade”, sob chefia masculina. Essa noção de posse se estendeu à escravidão de modo geral e, mais tarde, a objetos, produtos de sua indústria – o sistema de propriedade sobre bens.
Uma vez instalado este sistema, começa a luta entre homens pela posse de bens, que vai além da necessidade de subsistência. Ao mesmo tempo, a indústria evolui de maneira cada vez mais eficiente, o que faz com que a comunidade crie um excedente de riquezas. Desse modo, a competição se agrava e é almejado o aumento de conforto individual. Além disso, há o componente coletivo na motivação para a aquisição de riqueza: busca-se a honra da posse propriamente dita, que destaca superiormente o dono do resto da comunidade – desenvolve-se a comparação odiosa dentro do grupo.
A propriedade, por conseguinte, se torna prova de sucesso pessoal. Através da busca por essa emulação, a acumulação de bens ocupa o lugar dos troféus predatórios como índice de estima. Desde que o indivíduo seja dono dos objetos que porta, independentemente de terem sido adquiridos por mérito próprio ou herança – esta última sugere ainda mais status pelo fato de obter riqueza sem esforço –, ele é digno de honra se estes se sobrepõem às posses dos outros membros. Ele receberá respeito da comunidade. Os demais, por sua vez, sentem sua auto-estima ferida ao deparar-se com uma coleção pessoal que se equipara apenas com o parâmetro do comum. Portanto, a propriedade também se torna requisito de respeito próprio, pois a auto-satisfação está intimamente relacionada com a sua estima avaliada pelo grupo, cujo critério é material.
A manifestação da força persiste no critério popular de eficiência predatória pelo hábito de pensamento. Porém, sua freqüência diminui consideravelmente, já que o conceito de posição social privilegiada está associado com a ausência ou diminuição de esforço físico.
Apesar de a aquisição material ter a capacidade de elevar o status de um sujeito, não há um padrão de suficiência preciso para tal. Ou seja, por mais que ele acumule, ele se acostumará com a riqueza e a satisfação por meio desta cessa. Desse modo, ele tende a aumentar a mesma, o que produzirá um novo critério de suficiência e novos parâmetros do normal – nova classificação pecuniária perante os outros membros. Assim, o desejo pela acumulação nunca se extingue, assim como as necessidades individuais, pois estas se baseiam no sobrepujar de um em relação aos demais.
Alcançado este nível da emulação, o poder obtido através da riqueza se torna por si só motivo para a acumulação mais intensa desta. Paralelamente, o repúdio à atividade fútil ainda revigora, e a aquisição de bens permanece a maneira mais fácil de obter estima social. Nisso, as auto-estimas dos indivíduos entram cada vez mais em colisão, fazendo com que o instinto de artesanato, de realização de ações pecuniárias, se apóie na emulação invejosa de um em relação a outros. O sucesso, portanto, se torna o fim último de todas as ações.
sábado, 21 de novembro de 2009
(312) dias
Há dias que significam meses, há os que significam horas; muitas vezes aqueles parecem minutos e estes, anos, depois que já passaram. Nos momentos, entretanto, dos primeiros, o tempo parece congelar.
O tempo é relativo, sim.
"...Deste modo o tempo perdeu seu caráter absoluto e foi classificado como uma grandeza algebricamente (quase) equivalente às coordenadas "espaciais"; o caráter absoluto do tempo e em particular da simultaneidade foi derrubado e a descrição quadridimensional introduzida como a única adequada." (EINSTEIN, A. Física e Realidade. Rev. Bras. Ensino Fís. vol.28 no.1, SP: 2006)
E não só na física, já que tudo está interligado.
O tempo individual é imensurável. Toda a percepção pessoal, todo o processo de atribuir significado a fatos, sentimentos, ações, julgamentos, raciocínios, impressões, etc. é absolutamente impossível de se encaixar em sintonia com o coletivo em um sistema de meses e anos, muito menos de horas e minutos. É uma característica humana que todos parecem esquecer, só porque não convém produtivamente à vida em sociedade.
Eu digo para de vez em quando congelarmos o nosso tempo e saborear certos momentos que deveriam ser vividos, considerando o calendário artificial, por semanas...
sexta-feira, 20 de novembro de 2009
Portrait of an ISFJ
As an ISFJ, your primary mode of living is focused internally, where you takes things in via your five senses in a literal, concrete fashion. Your secondary mode is external, where you deal with things according to how you feel about them, or how they fit into your personal value system.
ISFJs live in a world that is concrete and kind. They are truly warm and kind-hearted, and want to believe the best of people. They value harmony and cooperation, and are likely to be very sensitive to other people's feelings. People value the ISFJ for their consideration and awareness, and their ability to bring out the best in others by their firm desire to believe the best.
ISFJs have a rich inner world that is not usually obvious to observers. They constantly take in information about people and situations that is personally important to them, and store it away. This tremendous store of information is usually startlingly accurate, because the ISFJ has an exceptional memory about things that are important to their value systems. It would not be uncommon for the ISFJ to remember a particular facial expression or conversation in precise detail years after the event occured, if the situation made an impression on the ISFJ.
ISFJs have a very clear idea of the way things should be, which they strive to attain. They value security and kindness, and respect traditions and laws. They tend to believe that existing systems are there because they work. Therefore, they're not likely to buy into doing things in a new way, unless they're shown in a concrete way why its better than the established method.
ISFJs learn best by doing, rather than by reading about something in a book, or applying theory. For this reason, they are not likely to be found in fields which require a lot of conceptual analysis or theory. They value practical application. Traditional methods of higher education, which require a lot of theorizing and abstraction, are likely to be a chore for the ISFJ. The ISFJ learns a task best by being shown its practical application. Once the task is learned, and its practical importance is understood, the ISFJ will faithfully and tirelessly carry through the task to completion. The ISFJ is extremely dependable.
The ISFJ has an extremely well-developed sense of space, function, and aesthetic appeal. For that reason, they're likely to have beautifully furnished, functional homes. They make extremely good interior decorators. This special ability, combined with their sensitivity to other's feelings and desires, makes them very likely to be great gift-givers - finding the right gift which will be truly appreciated by the recipient.
More so than other types, ISFJs are extremely aware of their own internal feelings, as well as other people's feelings. They do not usually express their own feelings, keeping things inside. If they are negative feelings, they may build up inside the ISFJ until they turn into firm judgments against individuals which are difficult to unseed, once set. Many ISFJs learn to express themselves, and find outlets for their powerful emotions.
Just as the ISFJ is not likely to express their feelings, they are also not likely to let on that they know how others are feeling. However, they will speak up when they feel another individual really needs help, and in such cases they can truly help others become aware of their feelings.
The ISFJ feels a strong sense of responsibility and duty. They take their responsibilities very seriously, and can be counted on to follow through. For this reason, people naturally tend to rely on them. The ISFJ has a difficult time saying "no" when asked to do something, and may become over-burdened. In such cases, the ISFJ does not usually express their difficulties to others, because they intensely dislike conflict, and because they tend to place other people's needs over their own. The ISFJ needs to learn to identify, value, and express their own needs, if they wish to avoid becoming over-worked and taken for granted.
ISFJs need positive feedback from others. In the absence of positive feedback, or in the face of criticism, the ISFJ gets discouraged, and may even become depressed. When down on themselves or under great stress, the ISFJ begins to imagine all of the things that might go critically wrong in their life. They have strong feelings of inadequacy, and become convinced that "everything is all wrong", or "I can't do anything right".
The ISFJ is warm, generous, and dependable. They have many special gifts to offer, in their sensitivity to others, and their strong ability to keep things running smoothly. They need to remember to not be overly critical of themselves, and to give themselves some of the warmth and love which they freely dispense to others.
Jungian functional preference ordering:
Dominant: Introverted Sensing
Auxilliary: Extraverted Feeling
Tertiary: Introverted Thinking
Inferior: Extraverted Intuition
DO THE PERSONALITY TEST:
http://www.humanmetrics.com/cgi-win/jtypes2.asp
Moinho
through a pin hole
just like a faucet that leaks
and there's confort in the sound.
.
.
Apatia? Não é verdade. É mais um sentimento de vácuo em meio a uma excessiva fullness. Desencaixe constante, não só em relação às pressões da vida produtiva de metrópole mas também da social. Mesmo sendo privilegiados, ainda temos que manter a imagem de auto-satisfação. Quando aparecem situações que demandam iniciativa e você é a única pessoa que a tem, o desgaste aumenta demais. Não sou triste, porque não existe "ser" triste ou feliz, mas há um quê de queijo suíço nessa vidinha zona sul. Acho que muitas pessoas têm tempo demais nas mãos às vezes, e por algum instinto azedo decidem ocupá-lo criticando outras. Além da superficialidade óbvia desse passatempo, não é assim que os buracos diminuirão - muito pelo contrário... Diversas vezes, em meio a esse vício alheio, torna-se muito difícil encontrar alguém disposto a realmente ouvir, sem um gravador interno para apertar repeat em meio a outros. O número é infinitamente desproporcional à necessidade de expressão pessoal, de desabafo. O que aconteceu com a amizade pura e simplesmente cooperativa?
Quando chega a hora que você sente vontade, você pega o telefone e procura em sua mente nomes para ligar. O que acontece é que você não encontra pessoas que estariam dispostas a te ouvir de graça, e mais da metade das vezes acaba devolvendo o telefone à base... mais uma vez.
quinta-feira, 19 de novembro de 2009
Como envelhece quando você não está.
Tem a asa rasgada.
Vai em cada flor, cada arbusto
Cadê o pedaço que me falta?
Escondido no leque multicores,
No subconsciente de todas as formas,
Na essência de tudo no que ela pisa - e degusta.
O pólen pode ser doce
Mas ela prefere voar melhor.
E como ela pode lançar o vôo
Se a marselhesa não a deixa?
Ela procura, bate as asas com esforço
Através do universo de pétalas e pétalas
Mas nada mudará seu mundo.
Um milhão de sorrisos, uma onda de felicidade
A arrastam para distraí-la
Pela chuva, estrelas cadentes, poeira cósmica
E ainda está lá a borboleta
Com toda a esperança, ela procura
À espera do encaixe dos sonhos.
Tons de verde e violeta dançam
No festival da aurora boreal
Em meio a geadas e cristais de neve
E ainda está lá a borboleta
Com toda a esperança, ela procura
À espera do encaixe dos sonhos.
Primavera chegou
O canteiro sorri para ela
Diz: "olha, olha o desabrochar"
E a borboleta passa reto, distraída
Ele grita: "quê que foi, quê que há?"
E ela nem ouve
Com toda a esperança, ela procura
À espera do encaixe dos sonhos.
Um dia veio à borboleta:
E se eu perguntasse ao louva-deus?
Ela implorou, por favor, senhor
Me mostre o caminho de tijolos amarelos.
Ele desobstruiu o arbusto e falou:
Minha cara, você não tem que ir universo a fora
E sim universo a dentro.
Borboleta então voltou cabisbaixa
E continuou sua missão.
Agora ela olhava para si
Abriu o terceiro olho e as asas
Sentiu a ventania aumentar, e um navio à vista
As folhas fizeram uma roda e dançaram,
Subindo ao céu em espiral.
Borboleta então desejou seu pedaço de asa
Do céu, descendo para ela...
E o gongo dos dois anos soou.
Um oi circulou borboleta na ventania
E seus olhos não acreditavam no que via.
Era ele, o pedaço da sua asa
Que a abandonara e nunca mais vira!
Borboleta o sufocou em seu ninho
E falou: "nunca mais te deixo sair".
O pedaço respondeu: mas borboleta,
Não vê que por causa dessa liberdade
É que nos pertencemos pra toda a eternidade?
Your heart is a hotel room
Confia em mim?
quarta-feira, 18 de novembro de 2009
Canção do almejado exílio
Com um rio de celofane e céus de nescau
Você liga para alguém, tropeça nas palavras
São os olhos azuis tocando corneta.
O verde-e-amarelo de papel reciclado
Rasgando sobre a sua cabeça
Procure o sonhador que acreditava no futuro
E ele já foi.
Siga-o pela Avenida Brasil perto das pinturas
Onde pessoas lêem "Gentileza Gera Gentileza"
Todos sorriem enquanto driblam as balas
Que passam tão incrivelmente perto.
Barcos de mandalas aparecem então
Prontos para zarpar para o norte
Entre, deite, e sonhe com uma qualidade de vida
E você já foi.
Imagine-se em um trem em uma estação,
Com poltronas macias e limpeza impecável
De repente alguém aparece e te pede a mão,
São os olhos azuis com a corneta de lado.
Debs no céu com um diamante!
domingo, 15 de novembro de 2009
Aconteceu em Woodstock
Saudades de uma época que não se viveu: é possível?
Possível é idealizar uma década, um momento em uma imagem límpida de perfeição, de equilíbrio, e desejar vivê-la. É isso que sinto ao ler e assistir às mídias dos anos 60 fora do Brasil.
Sorte é ter realmente compartilhado com outros aquela ideologia de liberdade, além da teoria, em qualquer época (mas suponho que, naquela, mais pessoas o fizeram).
Expressar a sua essência humana tão livremente, unido a uma multidão pelos ideais e pelo rock... Viver com somente o necessário no quesito material, dormir aonde der, cozinhar para todo mundo, cada um faz a sua parte...
E hoje?
Hoje a comunidade é diferente. Mesmo aqueles que tentam reviver a época que nunca viveram, questionando a sociedade áspera e sutilmente megacompetitiva moderna, se deixam levar pela onda de crânios ocos isolados, sem esqueleto ou neurônios espelho.
É raro se sentir unido hoje em dia. Unido de verdade, como quando você é a outra e a outra é você. Há um jogo de retalhamentos de corações, porém nenhuma forma uma interceção - quando forma, ergue-se também uma parede para demarcar o território. Cada um, ao longo da vida, deixa um pedaço de si no outro... mas por que isso é arruinado com a posse?
O amor pode ser expressado de diversas maneiras, e uma das mais naturais é pelo corpo. Tocar-se é exprimir carinho que surgiu naquele momento; não importa o sexo, idade, aparência, visão política, etc... Tudo é cheio de amor. Por que não sentir isso a cada entrada no mundo de outro alguém querido?
Digo porque: Sartre estava certo. A sociedade é a prisão do homem, e o homem não vive fora de sociedade. O paradoxo primordial da existência humana. O homem faz regras dentro da sua própria liberdade, pois há a liberdade do outro próximo a ele. As regras podem ser traçadas visando um bem comum a todos ou ao bem de um determinado grupo de pessoas. A única forma de conviver com o paradoxo é com a cooperação. Com o jogo de dar e receber, todos saem beneficiados, mesmo que agora você necessite reduzir sua liberdade pessoal para aumentar a do outro - em outros momentos, a situação se inverterá.
Por que somos incapazes de viver em cooperação? Segundo Thorstein Veblen, por causa do nosso estilo de vida predatório, que desperta um sentimento de competição entre nós que nos consome por inteiro. Mas, para ele, as culturas que não passaram pela Revolução Neolítica ainda estão em um estágio de comunidade fraterna, sem a noção de um membro contra o outro, ou que um se sobrepõe a outro em qualquer modalidade. Ou seja, talvez, um dia, em um período muito muito curto da história, já tivemos este pensamento que soluciona o paradoxo da vida humana.
A partir da adoção da vida predatória, passamos a desenvolver, segundo Konrad Lorenz, 3 princípios animais:
1) Princípio da liderança - que se dá pela força (líder = mais forte); se impõe pela violência.
2) Princípio da territorialidade - proteção e demarcação do território da comunidade; e território pessoal dentro do grupo (hierarquia demarca linhas invisíveis).
3) Princípio da exclusividade de tipo - quando nasce um indivíduo fenotipicamente diferente do resto do grupo, a tendência é a exclusão ou eliminação do mesmo (neofobia).
A diferença marcante, que faz o ser humano ter um pingo de esperança para atingirmos o "retrocesso" do pensamento cooperativo, é que nós temos a capacidade de processar raciocínios, e enxergar todas estas condições - e, portanto, controlá-las para um bem comum.
Isso somente acontecerá (se não fizermos pressão) no dia em que estaremos próximos do fim do mundo ou de alguma situação tão drástica assim, como a mudança climática global: quando a sobrevivência se sobrepôr à ganância e ao individualismo pelo qual o ocidente tanto preza.
Deveríamos utilizar este "novo" caráter competitivo do homem para alcalçar esta meta mundial de paz: coloquemos em jogo o Woodstock.
Quem reunir o maior número de pessoas pela paz vence;
Quem trouxer mais felicidade para o maior número de pessoas vence mais ainda;
Quem divulgar mais amplamente essa felicidade para o mundo, e mostrar o quão melhor somos vivendo desta maneira, vence o melhor prêmio de todos: a paz.
Ao infinito, e além!
quinta-feira, 12 de novembro de 2009
Bom dia, vida!
Afinal, o que é mais maravilhoso do que um dia após o outro?
A sensação de vida é a mais insubstituível que existe. Ah, vibração que emerge de nós todos, de dentro da nossa carne, flesh, como um vulcão Wroclai de cargas elétricas estimulantes, magia e motivação! Mesmo que com o pico cheio de neve de tempos em tempos, se estamos vivos ele se reativa. É como tudo que temos: há fases. Inverno, primavera, verão, outono... podem ocorrer linearmente, ao mesmo tempo ou em pipocamentos; nas mais variadas intensidades e formas! Quer mais o quê?
Quando a geada chega, em flocos ou granizo, ou mesmo chuva grossa, o que fazer? Lembrar-se que ainda há vida lá dentro; ainda há a lava de energia que quer sair. Parar, sentar e escutar o borbulhar: sim, ele bate forte. Por mais rigoroso seja o seu inverno, de dentro ainda gritam rios vermelhos de esperança, que pulsam em divergência, para abrir o que foi obstruído. Você está vivo, você é humano, você pulsa, você ama.
segunda-feira, 2 de novembro de 2009
Até o próximo sonho
Nus, abraçavam-se um contra o outro, forte, sob a chuva salgada, no centro do quarto.
"Pelo menos pude sentir seu corpo todo pela última vez", alguém disse.
Invadiu a casa o espírito das últimas vezes.
O último almoço em família, último sorriso infantil do bolo com sorvete, última corrida sem roupa do banho para o quarto.
Do elevador ao aeroporto, tudo parecia se desmoronar, ao longo do caminho que o carro traçava.
O Pão-de-Açúcar e o Corcovado acenavam: "até nunca mais".
A menina não tirava o rosto das mechas cacheadas dele - e se elas fugissem?
Embarque. Não há mais como adiar.
O último abraço. "Não é o fim".
A tentativa de guardar a sensação do abraço para sempre, cada toque, o aroma.
Até o próximo sonho.
Sinapse do Caos
Sofia sente-se morta por dentro, rodeada por mentiras de algodão-doce, que pulsam; a fantasia se dá como um sonho acordado - sorrisos degeneram-se na sua frente, e as cores vivas se perdem em névoa. Ela tateia a ilusão, mas o que ela procura não está pintado lá. O que ela precisa está como que uma estrela no céu negro. Ela corre, mas tropeça; agarrada na toalha, grita. Não sabe se por socorro ou para aquela luz distante. O vazio a toma mais uma vez, como que por completo, em desespero. Nua em realidade e em alucinação, ela vasculha seus sonhos internos, em busca de uma centelha de magia. Mas só encontra cinzas. Se sente fortemente arrastada por algo, como se a desenrolasse, fio a fio. Vê seus pedaços roubados juntos em uma bola de lã; e cobre o rosto com sofrimento. Desvia o olhar para o fundo sem cor, e reza para não-sabe-o-quê. As lágrimas escorrem, mas não há nada a fazer.
Acorda, enfim, com a temperatura da água corrente, ainda agarrada em sua toalha. Soluça, e esfrega seus olhos inchados com descrença. Move a torneira, desligando o chuveiro, se seca e envolve a toalha em seu corpo úmido. Em seguida, se senta, com os cotovelos na coxa e as mãos no rosto, e pensa: quando isso vai acabar?
Dança da vida... (all is full of love)
Não foi preciso muito tempo até darmos as mãos, em círculo. Cada um olhava para o grupo, e sorria com todo o corpo; alguns até com os olhos transbordados. Éramos um. A música começou a tocar: A roda girava, em meio a risos e sambas, cantar e cantar e cantar, e eu não poderia estar mais feliz. Olhei para todos, e flashes da época da inocência me vieram; aquela em que estendíamos nossos corações, em que não fazia sentido desconfiar, e que dizíamos sim. Pela primeira vez em muitos anos, não estava mais sozinha. Não havia mais incerteza nenhuma. Ficamos com a pureza da resposta das crianças - é a vida, é bonita e é bonita!
Bolha
Há uma bolha.
Ela enche a cada dia não preenchido.
Está escondida, afogada pela onda de distrações
Porém, ninguém pode negar que está ali.
A boemia não a satisfaz
Tampouco as pessoas que entram e saem.
O vazio continua vazio;
A fôrma que ali jaz ridiculariza
Cada um que tenta encaixar em seus pés
Ela olha, ri e comenta (com a amígdala):
"Quem ela quer enganar?"
Tenta-se, com a ativação do hipotálamo -
Inútil.
Os recalques continuam crescendo,
Fazendo amizades,
Criando ninhos:
Preparam o ambiente perfeito
Para a nutrição da bolha.
E agora?