vergonha:
é o que te recolhe e te encolhe
quebrada
catando os resquícios de uma emoção
que esforça-se para abraçar
e apertar, até algo puro escapulir
tão puro que me faça mais do que lacrimejar
eu quero é gritar, é urrar
por tudo o que me aflige
por mais simbólico e insignificante que seja!
a couraça é tatuada pelas mínimas agulhas
que unidas, cravam
em sangue, em chamas
a angústia.
tímido sentimento que lhe devora;
e lhe amassa
até que alguém o rasgue
o enovelado em inutilidade
o caráter mastigado
terça-feira, 30 de novembro de 2010
terra salgada
abatida
batida enquanto à parte
os golpes da batedora me remexeram,
violentaram-me como alarme que estupra meus sonhos de madrugada
e lhes trazem às sombras
sem referência, sem entorno
um ponto no escuro.
fenômeno singular que foi estraçalhado,
restando nada mais que migalhas
do que um dia seria para ser.
enquanto finjo uma vida objetiva
assisto com os ouvidos seu laço
cujo nó me impede de entrar,
e com isso amarra também minhas doces formas oníricas
de modo que eu permaneça com a companhia, senão, de mim
de minhas tristezas e medos
que enfim devo encarar sem raízes...
batida enquanto à parte
os golpes da batedora me remexeram,
violentaram-me como alarme que estupra meus sonhos de madrugada
e lhes trazem às sombras
sem referência, sem entorno
um ponto no escuro.
fenômeno singular que foi estraçalhado,
restando nada mais que migalhas
do que um dia seria para ser.
enquanto finjo uma vida objetiva
assisto com os ouvidos seu laço
cujo nó me impede de entrar,
e com isso amarra também minhas doces formas oníricas
de modo que eu permaneça com a companhia, senão, de mim
de minhas tristezas e medos
que enfim devo encarar sem raízes...
sem flor, sem perfume, sem rosa, sem nada
frente à derrota recolho-me a meus sonhos
dia último do mês penúltimo,
novembro me trouxe bons mares.
agora a maré se resguarda,
a bruma dissolve as expectativas
que fizeram-se espuma.
de onde vem a calma
que agora viola-me com falos de seda
silenciando-me com um pano quimificado
que corrói, penetra
e rasga meu âmago
até o capotar no chão
sozinha e esquecida
pois não há braços para os quais cair.
renegada, polvilho a pólvora que povoa o cio
e retenho-a retalhada,
como quem aborta os próprios desejos
em nome da sanidade
com as mãos entre as coxas,
e a rosa de hiroshima entre as mãos...
dia último do mês penúltimo,
novembro me trouxe bons mares.
agora a maré se resguarda,
a bruma dissolve as expectativas
que fizeram-se espuma.
de onde vem a calma
que agora viola-me com falos de seda
silenciando-me com um pano quimificado
que corrói, penetra
e rasga meu âmago
até o capotar no chão
sozinha e esquecida
pois não há braços para os quais cair.
renegada, polvilho a pólvora que povoa o cio
e retenho-a retalhada,
como quem aborta os próprios desejos
em nome da sanidade
com as mãos entre as coxas,
e a rosa de hiroshima entre as mãos...
segunda-feira, 29 de novembro de 2010
e o rio de janeiro continua lindo???
É o mundo que anda hostil
a pomba carregada de fuzil
pra metralhar a puta que o pariu.
aplausos
para os grandes homens que estouram os miolos
dos que explodem outros?
paradoxo inexorável
auto-sustentável
e abominável...
sinto-me uma fina voz
agorando por ideais esquecidos
convertidos em valor real
real, demasiadamente real
que silencia os sonhos
esmaga os desejos
etiqueta as auras.
como voar por aí flutuando em altas freqüências
se nenhum ouvido é apto ao agudo?
(título dedicado à matéria do jornal O Globo logo após a tomada do complexo do alemão)
a pomba carregada de fuzil
pra metralhar a puta que o pariu.
aplausos
para os grandes homens que estouram os miolos
dos que explodem outros?
paradoxo inexorável
auto-sustentável
e abominável...
sinto-me uma fina voz
agorando por ideais esquecidos
convertidos em valor real
real, demasiadamente real
que silencia os sonhos
esmaga os desejos
etiqueta as auras.
como voar por aí flutuando em altas freqüências
se nenhum ouvido é apto ao agudo?
(título dedicado à matéria do jornal O Globo logo após a tomada do complexo do alemão)
segunda-feira, 22 de novembro de 2010
américas
hello, hello
is there anybody in there?
navego sem navio, sem capitão
meio a ondas de angústia
que quebram a cada hipocrisia
um "tudo bem?" corriqueiro
sem nem mesmo uma análise do rosto receptor
chegando a meus olhos ensebados
meios-gritos abafados em lenços de papel.
tanto é obrigação o cumprimento como o é as minhas lágrimas...
is there anybody in there?
navego sem navio, sem capitão
meio a ondas de angústia
que quebram a cada hipocrisia
um "tudo bem?" corriqueiro
sem nem mesmo uma análise do rosto receptor
chegando a meus olhos ensebados
meios-gritos abafados em lenços de papel.
tanto é obrigação o cumprimento como o é as minhas lágrimas...
quarta-feira, 17 de novembro de 2010
ressonância
quaisqueres pequenas pedradas parecem ressoar
como ondas beta e teta, graves
enclaves
cujos golpes fazem a represa balançar
e vazar em gotas,
reprimidas contra a gravidade
pela falta de sentido,
pela ríspida destreza
pela razão apolínia
não condizentes a meu sangue latino
minh'alma cativa
quebrei a lança,
lancei no espaço:
um grito, um desabafo
é, nessas alusões e ilusões
encontramos nossas faltas
desejos, sofrimentos
páthos:
é o que purifica
pré-requisito pra renascer
replantar
o grão nosso de cada dia
dia após dia.
como ondas beta e teta, graves
enclaves
cujos golpes fazem a represa balançar
e vazar em gotas,
reprimidas contra a gravidade
pela falta de sentido,
pela ríspida destreza
pela razão apolínia
não condizentes a meu sangue latino
minh'alma cativa
quebrei a lança,
lancei no espaço:
um grito, um desabafo
é, nessas alusões e ilusões
encontramos nossas faltas
desejos, sofrimentos
páthos:
é o que purifica
pré-requisito pra renascer
replantar
o grão nosso de cada dia
dia após dia.
domingo, 14 de novembro de 2010
abalo sísmico
a visão de seus olhos vermelhos latejantes
e minha culpa enlaçada a eles
me assombrarão pelas mil e uma noites
que ainda deitarei a seu lado,
relutando em lembrar-me
do abalo sísmico que lhe causei
pela mera expressão de um desvirtuamento...
quem o sabe, quem o julga?
já não me importo mais o que é ou não um desvio
desde que o pesadelo de ter de viver sem ti
não desbrave seu caminho tortuoso até o mundo real
para que torne tortuoso o meu
e as nuvens acima não despejem um novo oceano
que nos separe a fim de rasgar meu âmago
pelo pensamento de não mais fundir nossas filosofias
não conseguir substituir seu ronrono pelo do mais tenro felino
não ser capaz de reproduzir suas implicações e risadas patetas
ou de não ouvir as mínimas obssessões que arrancam-me sorrisos
com minusciosas descrições e entonações que compõem seu brilho próprio.
deixai nosso amor queimar-se em vela,
para que a sublimação se dê em fusão
e nossos seres, já mesclados, se pertençam até o próximo ciclo
onde surgiremos permutados de outras formas
sempre num giro gestáltico,
sempre os yins e os yangs
sempre, nós.
e minha culpa enlaçada a eles
me assombrarão pelas mil e uma noites
que ainda deitarei a seu lado,
relutando em lembrar-me
do abalo sísmico que lhe causei
pela mera expressão de um desvirtuamento...
quem o sabe, quem o julga?
já não me importo mais o que é ou não um desvio
desde que o pesadelo de ter de viver sem ti
não desbrave seu caminho tortuoso até o mundo real
para que torne tortuoso o meu
e as nuvens acima não despejem um novo oceano
que nos separe a fim de rasgar meu âmago
pelo pensamento de não mais fundir nossas filosofias
não conseguir substituir seu ronrono pelo do mais tenro felino
não ser capaz de reproduzir suas implicações e risadas patetas
ou de não ouvir as mínimas obssessões que arrancam-me sorrisos
com minusciosas descrições e entonações que compõem seu brilho próprio.
deixai nosso amor queimar-se em vela,
para que a sublimação se dê em fusão
e nossos seres, já mesclados, se pertençam até o próximo ciclo
onde surgiremos permutados de outras formas
sempre num giro gestáltico,
sempre os yins e os yangs
sempre, nós.
sexta-feira, 12 de novembro de 2010
alegoria ao intelectual francês
discurse para mim
sobre a fenomenologia das subjetividades pós-modernas
sobre os sentidos por ti embutidos a plexos pulsionais
sobre as impressões de mundo vindas de seu âmago
enquanto acende mais um cigarro
e tuas madeixas espreguiçam-se até cobrir seus olhos
desordenadas até o último fio
serei o ouvido mais leal que já viste
sempre com um sorriso envergonhado
desde que a vermelhidão passe despercebida
e lembre de fechar os lábios -
tanto para evitar vazamento por contemplação
como para não deixar transparecer
o quão mortífero é o desejo de levá-los aos seus.
sobre a fenomenologia das subjetividades pós-modernas
sobre os sentidos por ti embutidos a plexos pulsionais
sobre as impressões de mundo vindas de seu âmago
enquanto acende mais um cigarro
e tuas madeixas espreguiçam-se até cobrir seus olhos
desordenadas até o último fio
serei o ouvido mais leal que já viste
sempre com um sorriso envergonhado
desde que a vermelhidão passe despercebida
e lembre de fechar os lábios -
tanto para evitar vazamento por contemplação
como para não deixar transparecer
o quão mortífero é o desejo de levá-los aos seus.
quinta-feira, 11 de novembro de 2010
there's too much love
violinos balançam-me enquanto filosofo sobre rabiscos inconscientes
as nuvens esculpidas de presente por belle e sebastian
permitiram-me modelar essa casa de veraneio
onde o tempo é sempre nevoeiro e nevasca
e descontínuo, num ziguezague
formando oito infinito ao patinar pelo lago congelado.
desse mundo é árdua a tarefa de voltar
cair na história contínua e evolutiva
fria
e não o frio afetuoso dos flocos
mas um frio a corromper a forma do meu poema
cutucar-me com o tagarelar de meus deveres
e reprimir-me o mínimo de paixão que tento os impôr
de modo a moldá-la em uma escala de 1 a 10.
eu sou 11, 100, um milhão
ela é todos os números que pairam pelo conjunto
nenhum deles entenderá a sua voracidade
e seu fogo os queimará
para não encherem mais meu saco
discursando que o caos é errado.
as nuvens esculpidas de presente por belle e sebastian
permitiram-me modelar essa casa de veraneio
onde o tempo é sempre nevoeiro e nevasca
e descontínuo, num ziguezague
formando oito infinito ao patinar pelo lago congelado.
desse mundo é árdua a tarefa de voltar
cair na história contínua e evolutiva
fria
e não o frio afetuoso dos flocos
mas um frio a corromper a forma do meu poema
cutucar-me com o tagarelar de meus deveres
e reprimir-me o mínimo de paixão que tento os impôr
de modo a moldá-la em uma escala de 1 a 10.
eu sou 11, 100, um milhão
ela é todos os números que pairam pelo conjunto
nenhum deles entenderá a sua voracidade
e seu fogo os queimará
para não encherem mais meu saco
discursando que o caos é errado.
ao leão
santa loucura que introjetou-se em mim;
borboletas no estômago e formigueiro no peito
agonizam-me enquanto o vejo caminhar.
se há alguma energia provedora, eu lhe suplico
piedade de uma alma afortunada
que encontraste o clímax de seu roteiro:
uma centelha que fez amor com um lampião
e cujo fruto está em mim,
aquecendo meu drama em meio ao novembro nublado.
chuva de novembro me trouxe a fantasia
de esperar-lhe como quem parece ocupado
e aceitar um convite de vagar sem rumo
por baixo de uma grande folha,
onde há só nós ao lado da colônia.
a alma afortunada então treme como carneiro
vulnerável frente ao leão
mas paralizado por seu fascínio
e se a juba se aproximasse da presa
cabe a ela aceitar seu destino
como Delfos já aconselhara,
e como seu coração já implorara...
borboletas no estômago e formigueiro no peito
agonizam-me enquanto o vejo caminhar.
se há alguma energia provedora, eu lhe suplico
piedade de uma alma afortunada
que encontraste o clímax de seu roteiro:
uma centelha que fez amor com um lampião
e cujo fruto está em mim,
aquecendo meu drama em meio ao novembro nublado.
chuva de novembro me trouxe a fantasia
de esperar-lhe como quem parece ocupado
e aceitar um convite de vagar sem rumo
por baixo de uma grande folha,
onde há só nós ao lado da colônia.
a alma afortunada então treme como carneiro
vulnerável frente ao leão
mas paralizado por seu fascínio
e se a juba se aproximasse da presa
cabe a ela aceitar seu destino
como Delfos já aconselhara,
e como seu coração já implorara...
quarta-feira, 10 de novembro de 2010
flows on you
aconteceu.
não pude evitar,
apaixonei-me pelo calor do mistério...
e agora recuo-me aos meus sonhos,
amando ainda eternamente meu bem amado
e também a pluralidade que me é tão cara
resignando-me a fantasias
pelas quais meu mais precioso cristal poderia quebrar-se
cair no abismo
e só subir à superfície com zéfiro,
apenas pela metade, opaco e arranhado
como fazer-te entender sem levar comigo seu brilho?
não pude evitar,
apaixonei-me pelo calor do mistério...
e agora recuo-me aos meus sonhos,
amando ainda eternamente meu bem amado
e também a pluralidade que me é tão cara
resignando-me a fantasias
pelas quais meu mais precioso cristal poderia quebrar-se
cair no abismo
e só subir à superfície com zéfiro,
apenas pela metade, opaco e arranhado
como fazer-te entender sem levar comigo seu brilho?
com amor, zaratustra
veio até mim!
o meu destinatário secreto recebeu minha correspondência
sem saber que se destinava a ele
de um remetente desconhecido
agora com mais desrazão que nunca
ao deleitar-se no gozo de declarar-se
coberta por um lençol, em sussurros
mas mesmo assim vendo estrelas.
amar um só não faz mais sentido
há uma enchente sentimental vazando de mim
suplicando para sair e irrigar outros campos
germinar novas flores e novas vidas
começar um ecossistema vizinho, com tanta riqueza
estas expectativas me matam,
e matam aos poucos as pulsões que me dão a juventude
e desperdiçam vidas, massacram possibilidades
de novos atravessamentos paralelos.
novos amores são novas relações,
que são novos cultivos e partilhas
que urgem a disseminar-se pelos prados
e enfrentar novos monstros que me farão sofrer
e, portanto, viver.
o meu destinatário secreto recebeu minha correspondência
sem saber que se destinava a ele
de um remetente desconhecido
agora com mais desrazão que nunca
ao deleitar-se no gozo de declarar-se
coberta por um lençol, em sussurros
mas mesmo assim vendo estrelas.
amar um só não faz mais sentido
há uma enchente sentimental vazando de mim
suplicando para sair e irrigar outros campos
germinar novas flores e novas vidas
começar um ecossistema vizinho, com tanta riqueza
estas expectativas me matam,
e matam aos poucos as pulsões que me dão a juventude
e desperdiçam vidas, massacram possibilidades
de novos atravessamentos paralelos.
novos amores são novas relações,
que são novos cultivos e partilhas
que urgem a disseminar-se pelos prados
e enfrentar novos monstros que me farão sofrer
e, portanto, viver.
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vida
terça-feira, 2 de novembro de 2010
rosa vermelha
estes dias peguei uma rosa da rua
ela estava se abrindo, se descobrindo
emanava esplendorosa veludez vermelha
apesar de seu aroma já ter escapado, pouco a pouco, para o nariz de muitos
fugiu como a zebra da leoa
mas a covardia da rosa não me impediu de contemplar.
reergui-a da calçada onde muitos devem tê-la pisoteado
e devolvi-lhe o carinho que merecia
até liberá-la para seu lugar
no meio da nação colorida,
no coração do jardim secreto.
ela estava se abrindo, se descobrindo
emanava esplendorosa veludez vermelha
apesar de seu aroma já ter escapado, pouco a pouco, para o nariz de muitos
fugiu como a zebra da leoa
mas a covardia da rosa não me impediu de contemplar.
reergui-a da calçada onde muitos devem tê-la pisoteado
e devolvi-lhe o carinho que merecia
até liberá-la para seu lugar
no meio da nação colorida,
no coração do jardim secreto.
impressão sol poente
meu querido, vim suplicar
para que retires essa máscara que me atira de joelhos a ti
para que enfim, talvez, eu pare de sonhar com teus fios sujos e desvairados
com teu sorriso sutil e infantil
e com cada última gota de expectativas
com as quais preenchi sua incógnita gestalt.
perdoa-me pelos versos compridos e desajeitados,
mas é a primeira vez que escrevo-te sem um muro entre nós
meus dedos tremem, embriagados pela idéia de seus olhos percorrerem meu poema
não é amor que sinto por ti
mas uma paixão por um mistério docemente familiar...
apesar de haver outros enraizados em minha bomba aórtica
poderias ali acampar por algumas eternidades
armar barraca longe das raízes, mas abaixo de uma árvore
e compartilhar com eles a fauna que me mostrares
coração das trevas e da luz
a feição de suave monstro, de criatura escondida do hostil:
impressão.
para que retires essa máscara que me atira de joelhos a ti
para que enfim, talvez, eu pare de sonhar com teus fios sujos e desvairados
com teu sorriso sutil e infantil
e com cada última gota de expectativas
com as quais preenchi sua incógnita gestalt.
perdoa-me pelos versos compridos e desajeitados,
mas é a primeira vez que escrevo-te sem um muro entre nós
meus dedos tremem, embriagados pela idéia de seus olhos percorrerem meu poema
não é amor que sinto por ti
mas uma paixão por um mistério docemente familiar...
apesar de haver outros enraizados em minha bomba aórtica
poderias ali acampar por algumas eternidades
armar barraca longe das raízes, mas abaixo de uma árvore
e compartilhar com eles a fauna que me mostrares
coração das trevas e da luz
a feição de suave monstro, de criatura escondida do hostil:
impressão.
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