em: Aurora Borealis ou Luzes do Norte
(a editar)
A umas três estações de metrô jazia o esconderijo paradisíaco da minha alma. Era uma livraria, daquelas que, ao dar o primeiro passo para dentro, respira-se cultura e sutileza. Residia numa espécie de galeria privada, secreta, que abrigava a livraria, um pequeno café e um grande cinema ao lado. Tantas vezes fugia do recinto dos artistas com o único veemente desejo de assentar-me em própria introspecção por horas, e refugiava-me ali. Ao abrir a porta da galeria penetrava paulatinamente em minha alma; ao aproximar-me dos três ambientes, preenchia-me de exaltação e anseio, pois ia de encontro à doce solidão.
Chegando à livraria, o aroma de livros novos sempre me contagiava e sentia que poderia viver naquele recanto por semanas. Lá, o tempo congelava e jamais me ocorria de checar um relógio; tampouco sentada em uma das mesas degustando o mais sublime cappuccino do mundo, cujos primeiros goles levavam minhas papilas gustativas a um delírio tal que era imprescindível a sua lenta apreciação; assim como suaves mas vigorantes inspirações enquanto o provava - elas fizeram-se exigência irrevogável de meu olfato. Fiel obediente de cada implacável demanda de meus sentidos, sentada eu permanecia diante de meu cappuccino por tempo incalculável, encostando levemente o nariz à xícara a cada vez que a levantava, a fim de captar aquela forte fragrância para minhas doces memórias, para logo em seguida saborear o néctar que seria cunhado nas profundas nostalgias que minha mente prega até hoje.
Naqueles momentos, tinha uma pátria; eu pertencia aos livros e suas possibilidades, meus compatriotas eram as pessoas imersas em si, em qualquer seção: filosofia, psicologia, antropologia, ficção, biografias, arte ou até mesmo história, qualquer leitor tão comovido pelas letras impressas em mãos a ponto de sentar-se na mesinha ao centro e deixar-se mergulhar. Minha alma me sussurrava: aqui é o seu lar – dentro de ti. Encontrava-me em mim em qualquer parte da galeria.
quarta-feira, 1 de setembro de 2010
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