Ela colocava constantemente flores num vaso: vivenciando o futuro atemporal, com seu plebeu de cabelos pretos viajava pelas estrelas num tapete persa, enquanto compartilhava filosofias e sonhos entre luares e águas refletidas. Percorriam os véus da emoção de um novo laço, em meio a um oceano de amores apressados, pulsionando vida por toda a alma. O Devir era tudo - senhor de si, de todos, dos dois. Fundidos nessa única e mágica nova realidade, a eternidade é pouco. Leveza pura é o som de ser livre e se fazer prisioneiro de outrém. Dela emanava o perfume do sentimento eterno enquanto si, e a doce amarga fragilidade cristalina a erigia tal como o Leão. Seu suor eram as lágrimas do júbilo de querer perecer; morrer a cada instante para revivê-los de diversas formas, em diversas novas vidas.
Poderia ela derreter-se para dentro dele? Poderia ele se entranhar nela e vestir sua pele e suas vísceras? Não nas leis às quais se submeteram. Suas histórias se costuram aqui, mas só criam vastos tecidos no Devir; somente num universo atemporal podem regorzijar das infinitas combinações de retalhos que derivam de tal plenitude. E essa era sua maior fantasia.
Como retirá-lo do freezer de deveres supérfulos e trazê-lo consigo, para a Realidade? Será que os mitos terrestres nunca cessariam? Nunca verão que a condição humana não está à venda? O pensamento a atravessava, deixando-a cabisbaixa. Sua loucura a libertava e a aprisionava, pois nunca conseguira trazer seus afetos à sua floresta. Nunca poderiam ver a chuva de meteoros noite após noite, tampouco as auroras boreais de seus invernos. Seu sonho era quebrar o feitiço do passado-futuro que alienava seus companheiros de Terra, em algum crepúsculo de terça-feira, para compartilhar com eles suas árvores preferidas e cada uma de suas histórias. Desejou-o nos três nós da sua fitinha de Senhor do Bonfim. Um dia chegará, ela se desfará; e junto com ela, sua solidão.
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