As lágrimas escorrendo desde a gênese das suas inseguranças chegaram até seus lábios - expressivamente mais avermelhados - trouxeram de volta consigo o salgado sabor da auto-piedade, as palpitações da mais solene purificação e os veementes ressentimentos, que rasgavam-no atravessando cerne do peitoral másculo e impenetrável. Uma impetuosa tsunami de dúvidas sobre suas próprias aptidões e significações o invadiu de modo avassalador, sem poupá-lo de uma sicatriz sequer.
April, sua melhor amiga, avistou tal desmoronamento interior assim que Michel retornou à sala cheia de pessoas. Se tornara profissional em detectar as sutilezas dos sintomas emocionais do rapaz. Ele suava excessivamente, a região ao redor da boca apresentava um avermelhamento característico e seus olhos exalavam morte; a confirmação, para ela, se deu quando ele se apoiou na mesa com as mãos cerradas, com o ar recatado de quem sofreu um abalo sísmico por dentro.
A confidente se aproximou, coberta de calor para transmitir, e estrelaçou seus dedos nos do amigo. Ele, ao levantar levemente a cabeça, encontrou aqueles olhos piedosos - os únicos que enxergavam por trás de sua palidez - e se sentiu em casa.
As feridas abertas revelaram a carne viva de Michel, tão frágil e sensível quanto qualquer outra - talvez até mais. A transparência do edotélio-carapuça que ele vestia não ocultava o golpe abrupto ao qual foi submetido, mas deixava também visível seu grande coração; sua natureza humana, que sempre fora capaz de curar-se de qualquer catástrofe, da sua única e pessoal maneira de lidar consigo mesmo.
April apostou na natureza de Michel. Em seus braços, acompanhou o amigo na sua salgada purificação da alma, e o subsidiou presenteando-o com algumas horas do seu dia, no canto confortável e secreto da cozinha, onde só eles podiam se ouvir.
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