Arrepio gelado vem da sensação de viver. É bela, pois seu estado de espírito contempla o estado de seu espírito - sem nenhuma outra alternativa além de senti-lo, atônito, sem fôlego por saber que deslumbroso significado pode colorir sua humilde existência em traços impressionistas, realçando suas curvas e todos seus resquícios de ardente movimento. Num ato de gloriosa inspiração, ar e aleluia enchem o meu cerne com tal vigor que me arranca lágrimas. Consciente de cada minusciosa víscera que palpita em mim, minha aura brilha de júbilo e não me contenho; acaricio meus braços do pulso ao ombro, e me envolvo em nuvens de felicidade ao meu corpo ser abraçado por seu mais íntimo amigo.
Em seguida implode puríssimo amor. Pela minha chama, por este delirante sabor salgado que escorre pela minha face ser real, por estar vivo, muito vivo, vivo, vivo!
quarta-feira, 28 de julho de 2010
segunda-feira, 19 de julho de 2010
Momento secreto
As lágrimas escorrendo desde a gênese das suas inseguranças chegaram até seus lábios - expressivamente mais avermelhados - trouxeram de volta consigo o salgado sabor da auto-piedade, as palpitações da mais solene purificação e os veementes ressentimentos, que rasgavam-no atravessando cerne do peitoral másculo e impenetrável. Uma impetuosa tsunami de dúvidas sobre suas próprias aptidões e significações o invadiu de modo avassalador, sem poupá-lo de uma sicatriz sequer.
April, sua melhor amiga, avistou tal desmoronamento interior assim que Michel retornou à sala cheia de pessoas. Se tornara profissional em detectar as sutilezas dos sintomas emocionais do rapaz. Ele suava excessivamente, a região ao redor da boca apresentava um avermelhamento característico e seus olhos exalavam morte; a confirmação, para ela, se deu quando ele se apoiou na mesa com as mãos cerradas, com o ar recatado de quem sofreu um abalo sísmico por dentro.
A confidente se aproximou, coberta de calor para transmitir, e estrelaçou seus dedos nos do amigo. Ele, ao levantar levemente a cabeça, encontrou aqueles olhos piedosos - os únicos que enxergavam por trás de sua palidez - e se sentiu em casa.
As feridas abertas revelaram a carne viva de Michel, tão frágil e sensível quanto qualquer outra - talvez até mais. A transparência do edotélio-carapuça que ele vestia não ocultava o golpe abrupto ao qual foi submetido, mas deixava também visível seu grande coração; sua natureza humana, que sempre fora capaz de curar-se de qualquer catástrofe, da sua única e pessoal maneira de lidar consigo mesmo.
April apostou na natureza de Michel. Em seus braços, acompanhou o amigo na sua salgada purificação da alma, e o subsidiou presenteando-o com algumas horas do seu dia, no canto confortável e secreto da cozinha, onde só eles podiam se ouvir.
April, sua melhor amiga, avistou tal desmoronamento interior assim que Michel retornou à sala cheia de pessoas. Se tornara profissional em detectar as sutilezas dos sintomas emocionais do rapaz. Ele suava excessivamente, a região ao redor da boca apresentava um avermelhamento característico e seus olhos exalavam morte; a confirmação, para ela, se deu quando ele se apoiou na mesa com as mãos cerradas, com o ar recatado de quem sofreu um abalo sísmico por dentro.
A confidente se aproximou, coberta de calor para transmitir, e estrelaçou seus dedos nos do amigo. Ele, ao levantar levemente a cabeça, encontrou aqueles olhos piedosos - os únicos que enxergavam por trás de sua palidez - e se sentiu em casa.
As feridas abertas revelaram a carne viva de Michel, tão frágil e sensível quanto qualquer outra - talvez até mais. A transparência do edotélio-carapuça que ele vestia não ocultava o golpe abrupto ao qual foi submetido, mas deixava também visível seu grande coração; sua natureza humana, que sempre fora capaz de curar-se de qualquer catástrofe, da sua única e pessoal maneira de lidar consigo mesmo.
April apostou na natureza de Michel. Em seus braços, acompanhou o amigo na sua salgada purificação da alma, e o subsidiou presenteando-o com algumas horas do seu dia, no canto confortável e secreto da cozinha, onde só eles podiam se ouvir.
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quarta-feira, 7 de julho de 2010
um mundo ideal
Ela colocava constantemente flores num vaso: vivenciando o futuro atemporal, com seu plebeu de cabelos pretos viajava pelas estrelas num tapete persa, enquanto compartilhava filosofias e sonhos entre luares e águas refletidas. Percorriam os véus da emoção de um novo laço, em meio a um oceano de amores apressados, pulsionando vida por toda a alma. O Devir era tudo - senhor de si, de todos, dos dois. Fundidos nessa única e mágica nova realidade, a eternidade é pouco. Leveza pura é o som de ser livre e se fazer prisioneiro de outrém. Dela emanava o perfume do sentimento eterno enquanto si, e a doce amarga fragilidade cristalina a erigia tal como o Leão. Seu suor eram as lágrimas do júbilo de querer perecer; morrer a cada instante para revivê-los de diversas formas, em diversas novas vidas.
Poderia ela derreter-se para dentro dele? Poderia ele se entranhar nela e vestir sua pele e suas vísceras? Não nas leis às quais se submeteram. Suas histórias se costuram aqui, mas só criam vastos tecidos no Devir; somente num universo atemporal podem regorzijar das infinitas combinações de retalhos que derivam de tal plenitude. E essa era sua maior fantasia.
Como retirá-lo do freezer de deveres supérfulos e trazê-lo consigo, para a Realidade? Será que os mitos terrestres nunca cessariam? Nunca verão que a condição humana não está à venda? O pensamento a atravessava, deixando-a cabisbaixa. Sua loucura a libertava e a aprisionava, pois nunca conseguira trazer seus afetos à sua floresta. Nunca poderiam ver a chuva de meteoros noite após noite, tampouco as auroras boreais de seus invernos. Seu sonho era quebrar o feitiço do passado-futuro que alienava seus companheiros de Terra, em algum crepúsculo de terça-feira, para compartilhar com eles suas árvores preferidas e cada uma de suas histórias. Desejou-o nos três nós da sua fitinha de Senhor do Bonfim. Um dia chegará, ela se desfará; e junto com ela, sua solidão.
domingo, 4 de julho de 2010
humano, demasiadamente humano
atemporais e plenas são as penas das minhas emoções.
o amor é livre enquanto amor;
escamado em toda a sua complexidade
pele atrás de pele, penetrando à flesh
carne viva essa que pulsa e flui como os céus de van gogh
revelada em puro retrato real
e amada pelo que ela é: isso é ser um
sem apreensões, sem ilusões
entrega da alma em entrelaços que se tranceiam
em meio a confissões, desenhos, serenatas e luares
confundem-se nos mares turbulentos cor-de-rosa
que banham a odisséia entre lençóis
invejada por delacroix, debruçada por beauvoir
líquida, mas verdadeira
eterna enquanto amor
impossível enquanto pudor
e impressindível enquanto calor
humano, demasiadamente humano
o amor é livre enquanto amor;
escamado em toda a sua complexidade
pele atrás de pele, penetrando à flesh
carne viva essa que pulsa e flui como os céus de van gogh
revelada em puro retrato real
e amada pelo que ela é: isso é ser um
sem apreensões, sem ilusões
entrega da alma em entrelaços que se tranceiam
em meio a confissões, desenhos, serenatas e luares
confundem-se nos mares turbulentos cor-de-rosa
que banham a odisséia entre lençóis
invejada por delacroix, debruçada por beauvoir
líquida, mas verdadeira
eterna enquanto amor
impossível enquanto pudor
e impressindível enquanto calor
humano, demasiadamente humano
ode ao sol da manhã
tão vasto e derradeiro é o mundo lá foraaterracedor e iluminado
por detrás da visão listrada semicerro os olhos
murmurro onomatopéias
agarro com furor minhas cobertas
e tento fugir da luz, no calorzinho do meu líquido amniótico
me aconchego e encolho as pernas
retorno à posição do quadro de Klimt
lá de dentro, a sonata de Liszt chega a meu inconsciente
promulga suas garras nebulosas esverdeadas
e me traz de volta, pelo PCs ao Cs
me fazendo esticar, tatear
até encontrar os botões que a fazem parar
(para retornar às profundezas da mente em dez minutos)
enquanto busco me devolver ao estado alucinógeno
tão doce, tão sincero
com o qual a alma me presenteia
no nosso encontro noite após noite:
meu amor mais duradouro,
mais íntimo, mais pleno
minha única psyché.
sábado, 3 de julho de 2010
goteira (i'm going back to the start)
o nosso sol de junho está se pondo;
sinto-me entrar num cânion de velhos erros
enquanto gozo o doce auge de fogos de artifícios
algo está para acontecer - afinal
mediante esse mar de linhas coloridas e tediosas
plástico bolha:
divertidas mas vazias.
esperando debaixo de uma clareira, por dentre verdes e amarelos
jaz o hedonista solitário, encondendo-se de seus prazeres
caleidoscópios o divertem
a embriaguez química o aliena;
dos si-mesmos em grutas escuras.
tem medo das estalagtites que o devorarão
e do vômito ácido que corroerá seus pés.
e então?
sinto-me entrar num cânion de velhos erros
enquanto gozo o doce auge de fogos de artifícios
algo está para acontecer - afinal
mediante esse mar de linhas coloridas e tediosas
plástico bolha:
divertidas mas vazias.
esperando debaixo de uma clareira, por dentre verdes e amarelos
jaz o hedonista solitário, encondendo-se de seus prazeres
caleidoscópios o divertem
a embriaguez química o aliena;
dos si-mesmos em grutas escuras.
tem medo das estalagtites que o devorarão
e do vômito ácido que corroerá seus pés.
e então?
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