domingo, 30 de junho de 2013

vespa

os teus passos vibram em mim feito corda de harpa
e quando dança suas pequenas danças, rodopios do ir e vir,
para um lado ou outro, pegar e soltar em mudra
nesse jeitinho devagar ritmado e doce, feito flauta doce
te fazes krishna, transmodando o divino em som
o infinito em música: arte da musa
como Ele, fecha os olhos, e seus pés são vassalos do devir
o rosto sereno, no êxtase cândido, de quem vê o tudo nas coisas pequenas
semeando primaveras amenas
circunda, circula graça em sachês
pingando vida pelos cantos,
e por esses cantos canta muda
me vê e sorri, esmeralda mulher de atenas
e vem até mim de girassol caracol nos cachos

enterrar as maçãs do rosto nesses cachos é afundar num travesseiro de flores
é espreguiçar-se num campo florido de verão
cheio de cores e amores,
ondulado prado de dente-de-leão
jardins de luxemburgo em matas virgens da costa verde.
a água vem e fica na espera
a espuma beija e banha o verbete: reverbera
feito confete em carnaval, manifesto em massa
e aí você me abraça –

– ,
quando vê, já passou
já se despediu e me amassou
pouco a pouco, conheço-te mais e mais
nesse instante, nessa fresta cega corpo a corpo
lendo o braile dos teus sulcos
novas arestas a cada vez
tua maciez me toma, me enrola
e naqueles dois segundos antes de desenrolar
enquanto suas ondas dos cabelos batem nessa pele
o tempo pára no prisma, pasmo
perde a pressa: tropeça
cai de cara num mar de tulipas
encontro meu centro e bóio
me apóio e concentro no contorno aquoso
na carícia da pétala e o orvalho gostoso
paz inabalável se faz: cheia, a maré mansa
parece que nunca mais se vai.
quando recua (quando você já não alcança)
é como se lá estivesse permanecido
em casulo para o próximo instante congelado
e o que vem entre é só passageiro... envaidecido
minha alma somente ali é mais
nas profundezas das tulipas, secreto silêncio

eternidade na impermanência.

sábado, 20 de abril de 2013

Core

in that moment of the session i remember the feeling of mixtures. of identities, names, personalities, life histories, afections and interconnections : it was all sort of condensed in a cloud above us. there was a tiny spotlight, maybe a candlelight, that was on the ground along with your favourite pillow (that was also the one for me), that composed with the burnt fragrace an atmosphere of union. that was enough. when you started 'vaccuming' yourself for the universe to enter it could speak for itself. i felt communicating with the source, that one that always tells me i'm being taken care of, embracing me with silky waves of warth, a long scarf that swirls around me with such lightness.
in short, it was my Being reminding me how everything is in its right place, always - all ways. That I Am: take it! Take this offer and flow with it, and enjoy the moment you are given this life.

Alívio silencioso da luz discreta

Os objetos do meu quarto ganham mais vida com luz de abajur. A lâmpada fluorescente no centro do teto, que tudo reluz, queima sua sensibilidade e eles se recusam a mostrar sua esfera animada. Na discreta alegria do pequeno holofote, que aquece e conforta como vela, o constrangimento se esvanece e podem dar as caras quase que desapercebidos. Os livros agora têm algo a dizer; intimidados por euforismos elétricos de nada mais poderiam servir para além de retratos demonstrativos, uma certidão de inteligência, de que pelamordedeus-eu-tenho-opinião-própria. No fundo, a cegueira que a abruta fluorecência faz sentir é o mesmo cansaço dos olhos que incessantemente buscam outros olhares, imagens para averiguar a sua própria, já tecida na retina - mas e você, o que acha? Melhor que ela? E esse decote, ele vai curtir? E essa minissaia? Meu cabelo? O bronze? Vai? Não vai? Hã??
Queimou tudo.
Tudo ficou branco, sem contornos, formas, contrastes ou sentido. É a invasão elétrica desses fogos artifícios nervosos. A voltagem transbordou e não existe mais eu ali.